segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Sobre funerais

Sexta-feira passada fui ao enterro do pai de uma colega de trabalho. Parecia que eu estava adivinhando, eu quase nunca visto preto, ainda mais numa sexta-feira, mas de manhã tinha colocado uma calça jeans preta e blusa preta.

Pela primeira vez na vida cheguei cedo a um funeral. Observar como tudo se passou desde o começo trouxe para mim uma nova perspectiva. Foi muito interessante e me fez refletir muito.

Eu presenciei a minha colega afagando o pai morto, com os olhos inchados de chorar, mas também como ela teve que lidar com os aspectos burocráticos do enterro, como assinar papéis, essas coisas.

Eu vi o padre chegar como um homem comum e tirar da sua pasta tipo 007 o “kit funeral”, colocar tudo na mesinha, arrumar, vestir a batina e começar a missa, como se fosse um homem de negócios qualquer e como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Eu fiquei impressionada com os olhos aquele padre, com uma bondade e uma beleza fora do comum. Só a viúva e eu comungamos, isso também me impressionou.

Foi interessante ver as pessoas chegando, cumprimentando a família e umas às outras. Ver aquele que chegou mais cedo sair e não voltar mais. Ver os que chegaram atrasados. Ver os que fazem perguntas impertinentes no momento impróprio, sem a menor cerimônia.

Lá, pensei sobre como meus pais procuraram me preservar de velórios. Até os meus 16 anos eu nunca tinha ido a um, apesar de nessa idade já ter perdido três dos meus quatro avós.

A primeira vez que fui a um enterro foi do pai de uma colega de escola. A própria escola providenciou o ônibus do transporte escolar para que todos os colegas da sala fossem, e no horário de aula. Todos foram, por solidariedade, curiosidade ou simplesmente por farra – era melhor ir do que ficar assistindo aula. Assim, a minha primeira experiência não foi aquela coisa pesada e absolutamente triste, eu não conhecia o morto, e não tinha amizade com a filha. Mesmo assim assistir aquilo me deu vontade de chorar.

Também lembrei que no enterro do meu último avô eu estava separada do meu ex e ainda não namorava o meu atual, e como passar por aquilo tudo sozinha me fez sentir solitária. Chorei muito por meu avô, mas também por mim.

Ninguém está preparado para a morte. Eu refleti sobre como não estou preparada para a morte dos meus pais, e nunca estarei.

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